terça-feira, 10 de maio de 2011

A mulher das estrelas



.."Ouça as palavras da Deusa estelar, cujo corpo engloba o universo e a poeira dos seus pés forma as hostes celestes".
O Mandamento da Deusa, de Doreen Valiente.


A humanidade sempre sentiu fascínio pelas estrelas e ao longo dos tempos as constelações ofereceram imagens e sabedoria para a criação de mitos e lendas. Os nomes atuais das estrelas são na sua maioria de origem grega e romana, porém muito antes destas civilizações, os povos nativos exploravam a vastidão do céu e criavam seus próprios mitos e arquétipos divinos.
Os nativos norte-americanos consideravam a “estrela matutina e vespertina” (nomes de Venus nas suas diferentes aparições em função da época do ano) como representações do princípio masculino e feminino. Um motivo comum nas suas lendas era a metamorfose de uma Mulher Estrela em uma linda mortal e seu desaparecimento depois de casar com um humano. Outros mitos chamam as estrelas de Filhos do Sol e da Lua, que, por temerem o Sol que engolia seus filhos, desapareciam de dia e voltam para dançar junto da sua mãe, a Lua, na chegada da noite. Os povos siberianos acreditavam que as estrelas são janelas de cristal pelas quais os deuses olham para a terra, o céu sendo uma grande tenda. A Via Láctea - que marca o centro da nossa galáxia - é descrita por alguns mitos como uma estrada, rio ou ponte entre os mundos. Os índios navajos dizem que ela foi formada pelo coiote que espalhou pedras brilhantes no céu, formando a ponte que liga o céu à terra. Já os maias achavam que ela era a estrada pela qual as almas iam para o mundo subterrâneo. No antigo Egito a luminosa estrela Sirius era alvo de veneração, seu aparecimento no céu coincidindo com a cheia do rio Nilo que trazia fertilidade e prosperidade. Os templos de Ísis, Hathor e Nut eram orientados para Sirius, que era o local de repouso das almas dos faraós e sacerdotes. Ísis era tradução grega do nome Au Set ou Sothis, equivalente de Sirius. A constelação Canis Maior a qual pertence Sírius é formada por 7 estrelas que deram origem aos 7 aspectos de Hathor e à serpente com 7 cabeças. A deusa árabe Al-Uzza também é associada com Sirius; os mitos semitas relatam a descida das deusas Ishtar e Astarte do planeta Vênus. Os títulos Rainha Celeste e Estrela Guia foram atribuídos a estas deusas, bem como à Inanna e “herdados” depois por Maria.Inanna era descrita vestida com uma túnica de estrelas e um cinto formado pelo zodíaco. Existem inúmeros mitos sobre as Plêiades, chamadas também de Sete Irmãs, “A galinha e seus pintinhos” ou “As choronas”, sua aparição sendo prenúncio da estação de chuvas, um marco importante para navegação e início do Ano Novo em vários lugares.. Elas formam um pequeno grupo na constelação de Touro, seis sendo visíveis a olho nu. Em contraste com seus efeitos míticos benéficos, na astrologia lhes é atribuída uma influência nefasta, presságio de cegueira para aqueles que nasceram debaixo da sua influência (grau 29 de Touro). Mitos celtas e maias atribuem a construção dos sítios megalíticos, círculos de menires e pirâmides a um enigmático Povo das Estrelas e aos viajantes vindo das Plêiades.
A Mãe das Estrelas é uma divindade cuja antiguidade e complexidade foge à nossa compreensão racional. Ela abarca toda a vastidão e diversidade do universo, regendo o tempo e a ausência dele. Ao mesmo tempo é gentil e terrível, simbolizando criação e destruição, o milagre do nascimento de uma estrela e a explosão violenta de uma super nova. Tanto é a luz difusa e longínqua das nebulosas, quanto o calor do Sol, o brilho da Estrela Polar ou o mistério dos buracos negros. Para conseguir alcançar o seu misterioso e profundo poder, precisamos nos distanciar dos arquétipos e diversos nomes a Ela atribuídos ao longo dos tempos. Podemos apenas imaginá-la como uma figura nebulosa formada pelas galáxias, cujos cabelos ondulam no movimento dos cometas e os seus passos são marcados pela poeira estelar. Seus olhos brilham como estrelas super novas, seu sorriso esquenta como os raios do Sol e Ela protege os viajantes da Terra, do mar e do espaço com suas asas radiantes. Seu elemento é a escuridão que abrange e conforta, mas também é a luz que brilha e guia. Seu halo cintila com cores estelares, do ultravioleta ao infravermelho, passando pelo azul, amarelo, vermelho ou simplesmente branco. Pode ser vista como uma Deusa Tríplice personificando a passagem do tempo ou apenas Mãe, pois Ela é a Fonte de tudo, o começo e o fim. Para ouvir Sua voz no nosso coração e sentir o Seu abrangente abraço, precisamos apenas olhar para o céu estrelado e refletir sobre o movimento eterno e infinito dos planetas, estrelas, constelações e galáxias, círculos dentro de círculos, mundos dentro de mundos. Sentir a nossa pequenez de simples átomos do Seu corpo, mas também a nossa grandeza espiritual por sermos Suas filhas. Iremos encontrá-la se mergulharmos dentro de nós, na nossa alma, percebendo-a como nosso Sol e doadora de vida, a nossa estrela Guia. E, se quisermos refletir suas bênçãos, devemos irradiar nossa própria luz, como pequenas centelhas da sua gloriosa e radiante chama. Pois ela é a Mãe de todos nós, o Alfa e Ômega do Todo, a Senhora Estelar primordial.

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