Marta
Histórias de Nasrudim
Prefácio
Há quem diga que Mullá Nasrudin nasceu e viveu numa pequena cidade da Turquia por volta do séc. XIII. Há quem diga que não é nem um pouco importante saber se isso é verdade ou não. Tal imprecisão não é casual, pois a intenção é justamente a de proporcionar um personagem à margem do tempo e destituído de uma personalidade histórica. Para o sufismo, mais importante que o Nasrudin histórico é o seu ensinamento, que permanece através dos tempos.
Grande prova de sua atualidade e vitalidade é a sua presença em quase toda a literatura mundial. Ultimamente, coletâneas de contos de Mullá Nasrudin têm sido publicadas em vários paí-ses ocidentais, além de formarem parte integrante da tradição escrita e oral da maioria dos países orientais.
A "História de Nasrudin" que aparece já no séc. XIII como um apêndice à primeira compilação de seus contos de que se tem noticia, alude a algumas das razões de sua existência. Es-ses contos dão forma a um sistema completo de pensamento que age em níveis de profundidade tão diversos que não pode ser totalmente extinto. Além disso, o humor tem a característica de difundir-se e deslizar através dos padrões mentais e sociais impostos à humanidade pelo costume e pela autoridade.
Pode ser verdade que os relatos devem sua sobrevivência a seu perene atrativo humorístico, mas para os sufis este aspecto é secundário. A verdadeira intenção com a qual foram desenhados é outra: a de proporcionar, no contexto de uma situação de ensinamento, uma base para a difusão da atitude sufi durante a vida.
Entretanto, os sufis concordam com os que não seguem nenhum caminho místico para ler os contos de Nasrudin e permanecem fazendo o que vem sendo feito através dos séculos: desfrutando-os!
Grande prova de sua atualidade e vitalidade é a sua presença em quase toda a literatura mundial. Ultimamente, coletâneas de contos de Mullá Nasrudin têm sido publicadas em vários paí-ses ocidentais, além de formarem parte integrante da tradição escrita e oral da maioria dos países orientais.
A "História de Nasrudin" que aparece já no séc. XIII como um apêndice à primeira compilação de seus contos de que se tem noticia, alude a algumas das razões de sua existência. Es-ses contos dão forma a um sistema completo de pensamento que age em níveis de profundidade tão diversos que não pode ser totalmente extinto. Além disso, o humor tem a característica de difundir-se e deslizar através dos padrões mentais e sociais impostos à humanidade pelo costume e pela autoridade.
Pode ser verdade que os relatos devem sua sobrevivência a seu perene atrativo humorístico, mas para os sufis este aspecto é secundário. A verdadeira intenção com a qual foram desenhados é outra: a de proporcionar, no contexto de uma situação de ensinamento, uma base para a difusão da atitude sufi durante a vida.
Entretanto, os sufis concordam com os que não seguem nenhum caminho místico para ler os contos de Nasrudin e permanecem fazendo o que vem sendo feito através dos séculos: desfrutando-os!
Nasrudim e o ovo
Certa manhã, Nasrudin - o grande místico sufi que sempre fingia ser louco - colocou um ovo embrulhado em um lenço, foi para o meio da praça de sua cidade, e chamou aqueles que estavam ali.
- Hoje teremos um importante concurso! - disse - Quem descobrir o que está embrulhado neste lenço, eu dou de presente o ovo que está dentro!
As pessoas se olharam, intrigadas, e responderam:
- Como podemos saber? Ninguém aqui é capaz de fazer adivinhações!
Nasrudin insistiu:
- O que está neste lenço tem um centro que é amarelo como uma gema, cercado de um líquido da cor da clara, que por sua vez está contido dentro de uma casca que quebra facilmente. É um símbolo de fertilidade, e nos lembra dos pássaros que voam para seus ninhos. Então, quem pode me dizer o que está escondido?
Todos os habitantes pensavam que Nasrudin tinha em suas mãos um ovo, mas a resposta era tão óbvia, que ninguém resolveu passar vergonha diante dos outros.
E se não fosse um ovo, mas algo muito importante, produto da fértil imaginação mística dos sufis? Um centro amarelo podia significar algo do sol, o líquido ao redor talvez fosse um preparado alquímico. Não, aquele louco estava querendo fazer alguém de ridículo.
Nasrudin perguntou mais duas vezes, e ninguém se arriscou a dizer algo impróprio.
Então ele abriu o lenço e mostrou a todos o ovo.
- Todos vocês sabiam a resposta - afirmou. - E ninguém ousou traduzi-la em palavras.
"É assim a vida daqueles que não tem coragem de arriscar: as soluções nos são dadas generosamente por Deus, mas estas pessoas sempre procuram explicações mais complicadas, e terminam não fazendo nada."
- Hoje teremos um importante concurso! - disse - Quem descobrir o que está embrulhado neste lenço, eu dou de presente o ovo que está dentro!
As pessoas se olharam, intrigadas, e responderam:
- Como podemos saber? Ninguém aqui é capaz de fazer adivinhações!
Nasrudin insistiu:
- O que está neste lenço tem um centro que é amarelo como uma gema, cercado de um líquido da cor da clara, que por sua vez está contido dentro de uma casca que quebra facilmente. É um símbolo de fertilidade, e nos lembra dos pássaros que voam para seus ninhos. Então, quem pode me dizer o que está escondido?
Todos os habitantes pensavam que Nasrudin tinha em suas mãos um ovo, mas a resposta era tão óbvia, que ninguém resolveu passar vergonha diante dos outros.
E se não fosse um ovo, mas algo muito importante, produto da fértil imaginação mística dos sufis? Um centro amarelo podia significar algo do sol, o líquido ao redor talvez fosse um preparado alquímico. Não, aquele louco estava querendo fazer alguém de ridículo.
Nasrudin perguntou mais duas vezes, e ninguém se arriscou a dizer algo impróprio.
Então ele abriu o lenço e mostrou a todos o ovo.
- Todos vocês sabiam a resposta - afirmou. - E ninguém ousou traduzi-la em palavras.
"É assim a vida daqueles que não tem coragem de arriscar: as soluções nos são dadas generosamente por Deus, mas estas pessoas sempre procuram explicações mais complicadas, e terminam não fazendo nada."
Depois de uma longa viagem, Nasrudin deu de cara com uma turbulenta
multidão em uma grande cidade. Nunca havia visto um lugar tão grande
e lhe confundiam a cabeça todas aquelas pessoas amontoadas pelas ruas.
“Num lugar assim”, refletia Nasrudin consigo mesmo, “fico imaginando
como é que as pessoas fazem para não se perderem de si mesmas,
para saberem quem são.”Então, pensou: “Devo recordar-me bem
de mim, caso contrário poderia perder-me de mim mesmo”.
Mais que depressa, procurou uma hospedaria.
Um sujeito brincalhão estava acomodado numa cama próxima
àquela reservada a Nasrudin.O Mullá pensou em fazer a sesta, mas estava diante de um problema: como encontrar novamente a si mesmo ao acordar. Confidenciou seu problema ao vizinho.“Muito simples”, disse o tal brincalhão. “Aqui tem um balão. Basta amarrá-lo na sua perna e ir dormir.
Quando acordar, procure o homem com o balão e esse homem será você.”“Excelente idéia”, disse Nasrudin.Algumas horas depois,
o Mullá acordou. Procurou o balão e o achou amarrado na perna do vizinho brincalhão.“É, esse aí sou eu”, pensou. Então, apavorado, começou a
sacudir o sujeito: “Acorda! Algo aconteceu, do jeito que eu imaginei que aconteceria! Sua idéia não foi boa!”O homem acordou e perguntou
qual era o problema. Nasrudin apontou-lhe o balão.
“Pelo balão, posso dizer que você sou eu. Mas se você sou eu,
pelo amor de Deus, quem sou eu?”
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