sexta-feira, 2 de setembro de 2011

HYPATIA DE ALEXANDRIA


Uma das coisas mais tristes do mundo é a intolerância religiosa, pois todas as religiões deveriam estar baseadas no amor e na compaixão. Alguns dos momentos mais negros da humanidade, algumas das guerras mais sangrentas, algumas das torturas mais cruéis existiram exatamente devido à intolerância religiosa. Um desses casos mais vergonhosos de intolerância foi o assassinato de Hipatia de Alexandria.

Uma raridade no mundo antigo Hipátia Nasceu no Egito no ano 370 D.C., filha de Theon de Alexandria. Muito cedo Hipátia deu provas do seu talento, tornou-se professora e deu aulas de matemática e filosofia na biblioteca de Alexandria, um dos maiores centros de conhecimento do mundo antigo, além de ter viajado para Itália e Atenas para tirar alguns cursos de filosofia.

Era considerada uma discursante muito carismática, as suas aulas eram bastante concorridas. Escreveu comentários a obras clássicas de matemáticos Gregos. Manteve-se solteira e declarava-se “casada com a verdade”. O conjunto da sua obra é tido como de relevo, e a sua morte, ocorrida em 415 D.C., trágica. Foi o último dos grandes nomes intelectuais a trabalhar na famosa biblioteca de Alexandria, por volta do ano 400 D.C. foi nomeada bibliotecária mor (diretora) da referida biblioteca, sucedendo ao seu pai Theon de Alexandria, um conceituado filósofo, matemático, e astrónomo, da altura. Foi também a primeira mulher que a história registra como dedicada á matemática.

Hipátia de Alexandria nasceu no seio de uma família com forte tradição intelectual. O seu pai Theon de Alexandria já referenciado neste documento como um conceituado, filósofo, matemático, e astrónomo, escreveu uma tese em 11 livros sobre o célebre tratado de “Almagesto” de Ptolomeu, que significa “ O grande tratado”, um tratado de astronomia. Esta obra é uma das mais importantes e influentes da antiguidade clássica. Nela está descrito todo o conhecimento astronómico Babilónico e Grego, nela se basearam a astronomia de Árabes, Indianos, e Europeus, até ao aparecimento da teoria heliocêntrica de Copérnico. No Almagesto, Ptolomeu apresenta um sistema cosmológico geocêntrico, isto é a terra está no centro do Universo e os outros corpos celestes, planetas e estrelas, descrevem órbitas em seu redor. Estas órbitas eram relativamente complicadas resultando de um sistema de epiciclos, ou seja Círculos com centro em outros círculos. Theon de Alexandria realizou ainda uma revisão dos “Elementos” de Euclides, de onde são baseadas as edições mais modernas da obra do conhecido matemático Grego.

As famílias fundadas sobre este lastro intelectual e de projeção social de Alexandria da sua época costumavam ainda cultuar o ideal Grego da “Mente sã, corpo são” (“men sana in corpore sano”). Com esse lema no pensamento, o pai de Hipátia não mediu esforços para torna-la o “ser humano ideal”, ensinando-lhe matemática e filosofia, e levando-a a fazer um programa de preparação física para lhe assegurar um corpo saudável. Todo esse esforço foi compensador.

Quando Hipátia começou a ser retratada a partir do renascimento, o seu rosto ganhou belos traços com um perfil nobre e altivo. Esses traços capturaram de uma certa forma uma projeção positiva que é feita da sua vida e obra, e um certo sentimento de reverência com respeito ao seu fim trágico.

No campo da matemática, Hipátia escreveu comentários sobre a “Aritmética” de Diofanto e as “cónicas” de Apolónio, fez investigações sobre a geometria de Euclides, interessou-se pelas ciências aplicadas, inventou um astrolábio e criou, nos ateliês da biblioteca de Alexandria diversos instrumentos de medida, como um nivelador de água, um higrómetro, e um aparelho para destilar água. O quanto se sabe ela interessou-se particularmente pelo estudo dos planos formados pelas intersecções de um cone e pelas curvas decorrentes dessas intersecções, as chamadas intersecções cónicas (hipérboles, parábolas, e elipses). A maior parte da obra escrita por Hipátia perdeu-se no tempo; mas no século XV foi encontrado na biblioteca do Vaticano uma cópia do seu comentário sobre a obra do matemático Grego Diofanto.

Devido á sua ambientação cultural e á influência da educação recebida do pai, é certo que Hipátia conheceu e estudou a obra do astrónomo Ptolomeu. A partir de cartas escritas por Sirénius, um dos seus alunos, sabemos hoje que Hipátia dedicou bastante tempo às suas actividades culturais desenvolvendo instrumentos mecânicos, alguns deles já aqui mencionados, utilizados para cálculos astronómicos e localização de astros no céu.

Na filosofia Hipátia abraçou a causa neoplatónica (ou “Platonismo”) que na sua época em Alexandria atuava em oposição aos grupos cristãos, fervorosos e atuantes. Ao longo do tempo, o cristianismo, por assim dizer, dominou e até mesmo assimilou o que lhe interessava do neoplatonismo, que na época era considerada uma filosofia pagã; isto aconteceu em Alexandria e por todo o mundo Romano.

Disputas religiosas e conflitos entre lideranças de Alexandria, apoiados por correntes religiosas, atraíram a ira dos devotos cristãos contra a “herege” Hipátia. A matemática, e a filosofia eram consideradas a face visível do neoplatonismo na cidade de Alexandria.

Existem várias versões sobre o seu trágico final, todas coerentes entre si, sendo que a mais difundida é a variante registada por Edward Gibbon, no seu livro “O Declínio e a queda do Império Romano”. Nesta versão numa manhã da quaresma de 415 D.C., Hipátia foi atacada na rua, por uma turba de cristãos quando regressava a casa na sua carruagem. A multidão enfurecida arrancou-lhe os cabelos e a roupa, esfolou-a com conchas de ostras, arrancaram-lhe os braços e as pernas, e queimaram-lhe o que sobrou do seu corpo. Atitude de uma verdadeira devoção bárbara.

O impacto dramático da morte de Hipátia fez com que no ano em que ocorreu alguns historiadores o interpretassem como o marco do fim do período antigo da matemática Grega. Para outros este desfecho só ocorrerá cerca de 100 anos mais tarde com a morte de Boécio também de uma forma trágica. Entretanto a morte de Hipátia de um certo ponto de vista sinaliza o fim de Alexandria como fonte do centro de maior conhecimento da matemática Grega da antiguidade.

A vida, a obra e a morte trágica de Hipátia despertaram a atenção de filósofos, matemáticos, e historiadores que a sucederam. 

Damáscio, um dos seus antigos alunos, que mais tarde se tornou num crítico severo do seu trabalho, escreveu que ela era “por natureza, mais talentosa e refinada do que o seu pai”. Intelectuais desde Voltaire a Carl Sagan, passando por Bertrand Russel dedicaram-lhe comentários de apreço e reconhecimento. A sua vida foi reconstituída num romance de Charles Kingsley, (“Hypátia, or new foes an old face”. New York: E.P. Dutton, 1907), e contada por Maria Dzielsk (“Hypátia of Alexandria”, Trad. F. Lyra, Cambridge, M.A. Harvard Press, 1995).

Recentemente o conhecido Realizador Espanhol de cinema Alejandro Amenabar (“Mar adentro”, 2004) dedicou um filme á vida de Hipátia (“Ágora”), que é representada pela atriz Inglesa Rachel Weisz. No Filme, Ágora exibido no último festival de cinema de Cannes, fora da competição, não são apresentados os detalhes do final trágico de Hipátia de Alexandria descritos por Edward Gibbon. Hipátia de Alexandria é retratada como uma “mulher agnóstica e letrada, destruída por fanáticos Religiosos. Alejandro Amenabar declarou que o seu filme podia ser interpretado como uma espécie de reflexão sobre os fundamentalismos religiosos de todos os tempos. 




Carl Sagan escreveu em seu livro Cosmos: 


“Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipátia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciências, e devido a Alexandria estar sob o domínio romano, após o assassinato de Hipátia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época.”


Essa Grande Mulher nutriu toda uma época com a luz do conhecimento e do saber. Calaram-lhe a voz e empurraram sua lembrança para as profundezas do esquecimento. Mas, dois milênios não foram suficientes para apagá-la da memória de todos os famintos pela verdade. Hipátia retorna forte e vibrante ao alcance daqueles que buscam por seus ensinamentos.


Defende o teu direito de pensar, porque mesmo pensar de modo erróneo é melhor do que não pensar. . .


Hipatia de Alexandria 370/415 D.C.


http://codigodacultura.wordpress.com/2010/02/18/hipatia-de-alexandria-370-415-d-c/

Fonte: http://wwwjaneladaalma.blogspot.com/

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