sábado, 30 de outubro de 2010

Happy Halloween!

Gifs


Uma das festas mais populares nos EUA, que ultimamente vem crescendo também no Brasil, o Halloween tem suas raízes fincadas na cultura celta.

Antônia Maria de Lima e Marília de Abreu

31 de outubro. Noite. Luz de velas dentro de abóboras. Morcegos e aranhas, bruxas, caveiras e fantasmas. Um verdadeiro cenário de filme de horror. Essa é a imagem pela qual as pessoas leigas conhecem o Halloween — o all hallow’s eve, expressão inglesa que significa a véspera do Dia de Todos os Santos —, ou Samhain, como os celtas chamavam o mês de novembro, quando se comemorava o Ano Novo. A celebração também diz respeito ao deus Samhan, o guardião dos mortos, que esperavam até esse dia para serem encaminhados à Terra do Verão, o mundo do além.

Além de ser o dia mais sagrado do calendário celta, também marca a passagem do ano. É um dia fora do tempo, pois não pertence nem ao ano velho, nem ao novo — como se o tempo parasse e os véus entre as dimensões se abrissem —, razão pela qual é considerado mágico.

Na tradição religiosa, o Dia de Todos os Santos é um momento de comunhão com seres espirituais. Uma oportunidade para os verdadeiros bruxos exercerem seu papel psicopompo (condutor das almas, associado a Hermes) para reverenciar e se comunicar com ancestrais, e também usufruir a proximidade e sabedoria destes, mas sem que haja incorporação, pois o contato é espontâneo. Os espíritos são convidados e, como as barreiras entre mundos estão mais tênues nessa data, o contato se torna mais fácil.

A forma que os bruxos utilizam para evocar as almas é um ritual que inclui oferendas e festejos. Também é preciso ter o cuidado de não convidar qualquer espírito, mas apenas os ancestrais queridos.

A oferta de alimentos (bolos de alma) está presente na tradição por dois motivos: o primeiro é compartilhar, e o outro é permitir que eles retirem a energia vital, a substância etérea do alimento. Assim como do fogo que lhes dá luz e calor, todos os espíritos apreciam o odor de alimentos queimados como oferendas.

Como se trata de um dia mágico e os portais entre mundos estão abertos, é o momento propício para a realização de feitiços, pedidos, previsões, limpeza, etc, que somente bruxos autênticos podem realizar, uma vez que apenas eles podem garantir que outros, que não foram convidados, interfiram. Os verdadeiros bruxos têm o poder para realizar tais rituais, pois reverenciam e guardam esses dias santos (os festivais da Roda do Ano), por levarem uma vida dedicada à arte, desenvolvendo suas habilidades mágicas, e por terem um profundo contato com seres da natureza, que são os seus auxiliares.


Comunhão entre Mundos

Ninguém se torna bruxo só porque festeja o dia 31 de outubro ou porque realiza algum feitiço. Tornar-se bruxo exige um longo treinamento e compromisso, uma vez que o dia-a-dia de uma bruxa não é apenas tomado pelas festividades de Halloween. São realizadas curas nos planos físico, mental e espiritual, utilizando recursos naturais como ervas, cristais ou alimentos em suas essências físicas e espirituais, e contando com o auxílio de seres da natureza, mestres espirituais e divindades. Tudo isso exige estudo, aprimoramento de dons psíquicos e dedicação. Ou seja, não se trata apenas de amarrar uma fitinha ou de jogar um pozinho. Para que os rituais tenham eficiência, existe um poder maior agindo paralelamente a eles, e esse poder só é acessível àqueles dignos e merecedores. Isso só ocorre para quem abdica da vida mundana para se dedicar a uma vida sacerdotal de bruxa ou bruxo.

Para nós, bruxos, o Halloween é uma oração pela qual entramos no mesmo ritmo de nossos ancestrais e obtemos a comunhão entre os mundos. É considerado o dia das bruxas porque só os que realmente são bruxos entram no ritmo dos espíritos. Eles conseguem captar as mensagens dos espíritos porque entendem e respeitam seus anseios e, nesse dia, existe uma troca de informação e energia.

Hoje em dia, os festejos são levados na brincadeira, especialmente nos EUA, com festas à fantasia e a já conhecida atividade que eles chamam de trick or treat (travessuras ou gostosuras), quando as crianças vão de casa em casa, vestidas como fantasmas, monstros e outros seres, pedindo doces e presentes. No entanto, mesmo essa brincadeira não deixa de ser uma forma de perpetuar uma tradição milenar e manter sua força, ainda que inconscientemente. Os bruxos e bruxas, por outro lado, têm a compreensão do que realmente significa a data e celebram com reverência a esse contato sagrado.

Existem símbolos e personagens comuns ao Halloween:

1 - A Bruxa/o como intermediário vivo com o mundo dos mortos;

2 - O Jack O’Lantern (a abóbora sem recheio, com uma vela em seu interior), visto como intermediário e guardião do mundo dos mortos. É um personagem mitológico que foi acrescentado aos festejos de Halloween a partir de 1750, um ser que vaga entre os mundos carregando uma lanterna de abóbora ou usando-a como sua própria cabeça (sendo também uma referência às últimas colheitas do fim do ano);

3 - Os fantasmas e caveiras simbolizam os ancestrais que não vêm para assustar, mas para participar dos festejos;

4 - Morcegos, corujas, gatos pretos, seres noturnos que têm relação com a morte. O Halloween é comemorado no signo astrológico de Escorpião, que é o signo da transformação, da morte e do mundo subterrâneo, que inclui esses seres noturnos.

Também é por isso que, em nosso coven, realizamos as festividades conforme as tradições de origem, sem as adaptações para o hemisfério Sul, pois existe uma correspondência astrológica com a Roda do Ano. Cada festividade tem afinidade com o signo do momento em que ela ocorre: por exemplo, o Halloween tem contato com os mortos, com o signo de Escorpião, que rege a morte.

Tão perseguida em outros tempos, a bruxaria tem hoje, no Halloween, provavelmente sua maior homenagem, assim como às suas sábias ancestrais mortas em perseguições, da mesma forma como os sábios de outras tradições também o foram.


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Tentativas de Cristianizar

Nos últimos anos, devido à série de filmes Halloween, a comemoração ficou de certa forma associada ao mal e a coisas ruins que podem acontecer no dia em que os mortos se comunicam com o mundo dos vivos. Claro que se trata de um exagero planejado para assustar, mesmo porque entre quase todos os ritos pagãos perturbar os mortos é considerado um ato imoral.

Na época do Samhain, espera-se que ocorram apenas comunicações voluntárias, sem que jamais a presença daqueles que já partiram seja exigida de alguma forma. Por meio de rituais, os espíritos podem ser convidados a participar da comemoração, daí o cuidado com a forma como o assunto é tratado e a necessidade de que pessoas experimentadas nos rituais estejam participando.

A transformação do nome para all hallow’s eve faz parte de uma série de atitudes da igreja em cristianizar os rituais pagãos. Ao criar o Dia de Todos os Santos, no dia 1 de novembro, pode criar a comemoração de véspera como se fosse cristã. A criação da festa ocorreu no século VIII, pelo papa Gregório III, e foi oficializada em todo o mundo cristão pelo papa Gregório IV. Como o ritual continuou a ser realizado como uma celebração pagã, chegou a ser banido do calendário da igreja da Inglaterra, somente reaparecendo em 1928.


Para Saber Mais:

Wicca Cia das Bruxas

Email: wiccaciadasbruxas@bol.com.br

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